O que muda depois do diagnóstico de autismo?

O diagnóstico de autismo representa um marco determinante na vida da criança e de sua família. Ele é um ponto de partida para acessar direitos, iniciar terapias adequadas, repensar expectativas e promover o acolhimento da criança. Entenda o contexto histórico do autismo, os impactos práticos e emocionais do diagnóstico e como ele pode transformar a realidade.

O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) marca o início de uma nova jornada para a criança e para sua família, com muitas mudanças e descobertas

A descoberta do autismo

O termo “autismo” surgiu oficialmente em 1943, através de estudos realizados pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner, ao descrever um grupo de crianças com comportamentos incomuns de comunicação e socialização. 

Entretanto, os estudos sobre o transtorno avançaram lentamente ao longo do século XX. Durante muito tempo, o autismo foi confundido com outras condições e interpretado com muito preconceito — como a falsa ideia de que os autistas “vivem em seu próprio mundo” ou “não sentem emoções”.

Essas visões que reduzem a personalidade das pessoas com autismo não apenas as desumanizaram, mas também atrasaram políticas de diagnóstico do espectro, de atendimento e inclusão. A ausência de dados, o apagamento histórico e a falta de políticas públicas para estas pessoas deixaram marcas que ainda impactam a vida de milhões de pessoas.

Foi só a partir dos anos 2000 que o conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA) se consolidou de forma mais consistente, quando começou a ser mais amplamente discutido, à medida que os movimentos sociais, das famílias e pesquisadores passaram a exigir visibilidade, direitos e dignidade para essa parcela da população, criando um reconhecimento de que não existe um único jeito de ser uma pessoa com autismo: existem múltiplas formas de viver e perceber o mundo — sendo todas elas válidas.

Segundo dados da ONU, uma em cada 100 crianças no mundo está no espectro autista. No Brasil, embora os avanços na legislação, como a Lei Berenice Piana, de 2012, tenham sido importantes, muitos desafios ainda persistem: os diagnósticos tardios, a falta de suporte às famílias, exclusão nas escolas, preconceito e ausência de representatividade em espaços de decisão social.

Hoje, embora ainda haja muito a ser conquistado, há o acesso a diagnósticos mais precoces, a terapias específicas, a legislação que garante direitos, a profissionais capacitados e a redes de apoio. A ciência avançou e a sociedade começou, ainda que de forma lenta, a ouvir vozes autistas e a reconhecer o valor da neurodiversidade.

Falar sobre o autismo se tornou, então, uma urgência. É necessário reconhecer que estamos diante de um amplo espectro, multifacetado e com singularidades. É entender que cada pessoa autista é única — com suas formas de sentir, de se comunicar, de interagir e de existir no mundo.

Mais do que isso, é um convite para que possamos criar ambientes acessíveis, relações de respeito e espaços para escutar cada necessidade. 

O impacto do diagnóstico de autismo na vida da criança e da família

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista representa um divisor na vida de todas as pessoas que o recebem. Ao mesmo tempo que pode provocar medo e insegurança, ele também traz clareza e abre caminhos para um cuidado muito mais direcionado. Algumas das mudanças mais significativas são:

1. Mudanças na vida da criança autista

  • Acesso a terapias e tratamentos personalizados: após o recebimento do diagnóstico, a criança pode iniciar acompanhamentos especializados — como psicoterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional — que contribuem para seu desenvolvimento e adaptação;
  • Compreensão de si mesma: a criança começa a ser compreendida dentro do seu próprio ritmo e particularidades. Isso pode gerar alívio, aumentar a autoestima e reduzir o estresse causado por exigências desequilibradas à sua realidade;
  • Inclusão educacional mais adequada: com o laudo, a criança tem direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), o que garante adaptações no currículo escolar e acompanhamento conforme suas necessidades.
  • Desenvolvimento emocional e social: o tratamento precoce possibilita o desenvolvimento das habilidades de convivência, de expressão das emoções e de interação, fortalecendo vínculos familiares e sociais.

2. Transformações para a família

  • Alívio e reorganização: depois de meses (ou anos) em busca de respostas, o diagnóstico pode trazer alívio e permitir que os pais e cuidadores comecem a reorganizar a rotina familiar com base em informações concretas e comprovadas;
  • Reformulação de expectativas: a família precisa rever os sonhos, os objetivos e a forma de enxergar o futuro da criança — o que não significa desistir de tudo isso, mas sim adaptá-los a uma nova realidade;
  • Busca por informação e suporte: pais e responsáveis passam a procurar conhecimento, participar de grupos de apoio e se conectar com outras famílias que compartilham os mesmos desafios e experiências;
  • Envolvimento com políticas públicas e inclusão: muitas famílias se tornam ativamente engajadas na luta por inclusão social, acessibilidade e respeito, buscando escolas mais preparadas, profissionais capacitados e ambientes que lidam com mais empatia com o espectro autista;
  • Crescimento emocional e fortalecimento dos vínculos: um novo olhar sobre a criança também promove crescimento emocional para todos, abrindo espaço para relações mais amorosas, empáticas e firmes.

Um diagnóstico que transforma — para melhor

Apesar dos desafios, o diagnóstico do autismo não deve ser visto como um fardo. Ele é uma ferramenta poderosa para garantir cuidado, respeito e qualidade de vida. É ele que clareia o caminho da criança e permite que a família a acompanhe de maneira mais consciente e afetuosa.

Na Tear, apoiamos, orientamos e caminhamos ao lado de quem vive essa jornada. Porque compreender o autismo é o primeiro passo para transformar a realidade dos que convivem com ele, e toda transformação começa com o acolhimento dos mais próximos.

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